Pesquise no blog

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entenda e Conviva com a Fibromialgia

SENTE dores por todo o corpo? Está extremamente cansado? Quando acorda de manhã, sente-se exausto e com os músculos rígidos? Às vezes, tem problemas de memória? Esses podem ser sinais da síndrome de fibromialgia (FMS).
“Nunca me esquecerei daquela manhã em 1989, quando acordei e fiquei paralisado por 45 minutos”, conta Luís. Assim começou a luta de Luís contra a fibromialgia, que basicamente significa “dor nos tendões, ligamentos e músculos”.
Talvez um amigo ou um membro da sua família tenha FMS. Como você pode ajudar? Ou se é você quem sofre dessa doença, o que pode fazer? Estar bem-informado ajuda bastante para que se possa entender e conviver com o problema. Mas nem sempre os sintomas acima indicam que a pessoa tem FMS.
O que é fibromialgia
Segundo a Associação Americana de Reumatologia, “o diagnóstico de fibromialgia se baseia no histórico pessoal de dores crônicas generalizadas e na localização, pelo médico, de pontos dolorosos em regiões específicas”. Há ainda outros sintomas, alguns similares aos da síndrome da fadiga crônica (CFS).
De fato, muitas pessoas que sofrem de FMS também têm CFS e outras doenças. Entre as vítimas da FMS são comuns a depressão e a ansiedade exagerada, e parece que a FMS em geral é a causa e não a conseqüência desses distúrbios. A FMS pode ser agravada por fatores externos como atividade física demais ou de menos, a chegada de uma frente fria, uma noite sem dormir ou estresse excessivo.
A FMS, antes conhecida por nomes diferentes, como fibrosite, não causa deformidades nem invalidez, nem é potencialmente letal em si mesma. Embora não se possa afirmar com certeza que é hereditária, muitas vezes afeta vários membros da mesma família. Ataca milhões de pessoas, principalmente adultos de todas as idades, e atinge mais mulheres do que homens.
A causa
Existem várias teorias sobre a causa da FMS. Pode ser causada por um vírus ou por um desequilíbrio do neurotransmissor serotonina, que afeta o sono, ou de substâncias como as endorfinas, os analgésicos naturais do corpo. As pesquisas dessas ou de outras hipóteses continuam.
Pelo microscópio, os músculos de quem tem FMS parecem saudáveis, mas as partes da célula que produzem energia talvez não funcionem normalmente. Desconhece-se a causa e a cura. Em muitos casos, a pessoa relaciona um evento traumático em sentido físico ou emocional ao início dos sintomas, enquanto em outros a doença se manifesta de forma mais sutil.
Diagnóstico difícil
Visto que a maioria dos sintomas da FMS também pode indicar outras doenças, a Dra. Carla Ockley, do Canadá, diz: “A FMS não é a primeira coisa que se procura num paciente que chega ao consultório se queixando de dor nas juntas. Se o problema persistir após várias consultas, então temos de investigar mais a fundo. Quando o diagnóstico é FMS, em geral mando o paciente a um reumatologista para confirmação.”
Contudo, até recentemente não havia critérios para diagnosticar a FMS, de modo que o problema era subjetivo, isto é, perceptível apenas ao paciente; e os resultados dos exames eram normais. Assim, muitos médicos desconheciam-na. Uma mulher chamada Raquel lamenta: “Fui a médicos diferentes durante 25 anos e gastei milhares de dólares antes de se diagnosticar corretamente a FMS.”
Onde então a pessoa pode encontrar ajuda se acha que tem fibromialgia? No seu livro When Muscle Pain Won’t Go Away (Quando as Dores Musculares Não Passam), Gayle Backstrom sugere que se entre em contato com a sede local da Arthritis Foundation (Fundação para Artrite) ou consulte um reumatologista.
Tratamento
Até hoje, não existe cura comprovada para a FMS, de modo que o tratamento em geral consiste em atacar os sintomas. Um dos principais é a dor, que, como outros sintomas, difere de uma pessoa para outra e, até na mesma pessoa, varia de dia a dia.
Há um outro problema: os analgésicos e tratamentos contra dor parecem perder a eficácia com o tempo. Gayle Backstrom menciona: “Muitas vezes quando a pessoa usa-os novamente mais tarde, sente de novo resultados positivos durante algum tempo.” Naturalmente, deve-se primeiro consultar o médico. Há também o risco de efeitos colaterais e de se ficar viciado. Assim, “deve-se evitar os analgésicos muito fortes”, recomenda a Associação Americana de Reumatologia.
Um segundo sintoma principal é a falta do sono vital por causa da dor e de outros distúrbios. Márcia usa um travesseiro bem comprido para apoiar o corpo, o que alivia a dor, e um umidificador cujo zumbido abafa o ruído externo. Outras ajudas podem ser plugues para os ouvidos, uma almofada de espuma ou revestimentos de espuma para colchão, com aparência de caixa de ovos (também chamado de “casca de ovo”). O Dr. Dwayne Ayers, da Carolina do Norte, EUA, diz: “Depois de ajudar a melhorar o sono dos meus pacientes, eles reagem melhor a outros tratamentos.”
Segundo o Instituto Nacional de Artrite e Doenças Musculosqueléticas e da Pele, “os pacientes com fibromialgia podem se beneficiar duma combinação de exercícios, medicamentos, fisioterapia e relaxamento”. Outros tratamentos podem ser massagens, controle de estresse e exercícios de alongamento. Mas para quem sente dor ou fadiga constantes, fazer exercícios pode parecer impossível. Assim, alguns recomendam começar aos poucos. E não se esqueça de consultar o médico antes de iniciar qualquer programa de exercícios.
O boletim Fibromyalgia Network, de julho de 1997, citou Sharon Clark, fisióloga e pesquisadora na área de exercícios, de Portland, Oregon, EUA, que disse que, se você não consegue fazer exercícios durante 20 ou 30 minutos, “faça seis caminhadas diárias de cinco minutos cada uma e isso dará bons resultados”. Exercícios aeróbicos moderados aumentam a produção de endorfinas, melhoram o sono e oxigenam o sistema e os músculos.
Contudo, as pessoas são diferentes e podem estar em vários estágios de FMS. Eliana diz: “Para mim, ir e voltar andando pelo caminho de entrada da minha casa já é um grande feito, ao passo que uma amiga que também tem FMS consegue caminhar mais de um quilômetro e meio.” Portanto, não é o caso de “sem sacrifício nada se consegue”; a chave para melhorar é não desistir. Luís, que tem CFS e FMS, diz: “De início, eu só conseguia usar a bicicleta ergométrica uma vez por semana durante dois ou três minutos. Agora, me exercito por mais de 20 minutos, três ou quatro vezes por semana. Mas levou mais de quatro anos para eu chegar a esse ponto.”
Tem-se mencionado que tratamentos alternativos, como acupuntura, quiroprática e outros, ou o uso de ervas ou suplementos dietéticos, podem ser de ajuda. Ao passo que alguns afirmam ter melhorado por usar alguns desses, outros não melhoraram. Os pesquisadores têm estudado vários desses tratamentos, mas os resultados ainda são inconclusivos.
Às vezes, os medicamentos abrem o apetite ou a pessoa passa a comer bastante para enfrentar a ansiedade. Contudo, quanto mais peso, mais estresse os músculos sofrerão, o que resultará em mais dores. Assim, em alguns casos, os médicos recomendam perder alguns quilos.
Quando se recebe um diagnóstico de FMS, o resultado pode ser pânico e ira. Apesar disso, há métodos seguros de se lidar com esses sentimentos normais para que ninguém se machuque. Outra reação comum é a angústia. Isso é natural quando se perde algo tão importante como a saúde.
Quando afeta o trabalho
Quem sofre de FMS talvez tenha problemas no trabalho. Lin trabalhou vários anos no mesmo emprego, mas isso ficava cada vez mais difícil para ela devido à saúde. Depois de conversar com o patrão, ela conseguiu um emprego de meio período na mesma empresa, o que aliviou seu estresse. Também, para sua surpresa, recebeu um aumento no valor da hora trabalhada.
Um terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta pode ajudar a encontrar meios de realizar o trabalho com menos estresse para o corpo. Lisa descobriu que era bom usar uma cadeira com braços. Yvonne foi aconselhada a trocar não só de cadeira como de escrivaninha. Mas se for preciso mudar de emprego, há agências que podem ser de ajuda.
Como você pode ajudar
Todos os membros da família, incluindo as crianças, devem aprender sobre a FMS e entender que, embora a pessoa que sofre dessa doença pareça saudável, ela tem uma doença crônica que causa dor e fadiga. Também é vital a boa comunicação. Janete diz: “De vez em quando temos uma conversa em família para ver como cada um pode ajudar.” Algo importante para que a pessoa conviva bem com a FMS é aprender a poupar energias e ainda assim fazer o que é preciso. Isso exige um pouco de imaginação e de cooperação de outros. Novamente, um terapeuta ocupacional pode ser de ajuda.
Pode-se ajudar um amigo com FMS por escutá-lo sem criticar. Tente manter a conversa num tom positivo, não deixando que a fibromialgia a domine. O que se deve ou não se deve dizer? Há algumas sugestões no quadro na página 23. Se você tem FMS, procure ter mais de um confidente para não desgastar a mesma pessoa com seus problemas. E lembre-se de que nem todos vão estar sempre dispostos a ouvir você falar sobre sua doença.
Adapte-se às circunstâncias
Geralmente, temos a tendência de nos irritar com mudanças, em especial se forem forçadas. Mas um fisioterapeuta que já ajudou mais de cem vítimas da FMS diz: “Procuro ajudá-las a entender que precisam aceitar sua situação. Elas também têm de fazer algumas mudanças na vida e não se deixar desencorajar por reveses temporários ou recidivas. Com autotratamento, conhecimento, entendimento e exercícios, elas podem controlar a FMS em vez de deixar que ela as controle.”
Davi, que tem FMS, diz: “Embora a tendência seja fazer mais quando a gente está se sentindo bem, pode ser mais prudente guardar as forças para o dia seguinte para não precisar passar o resto da semana na cama.” Porém, às vezes você talvez ache que vale a pena ir a um evento ou a um acontecimento especial mesmo que sofra um pouco depois. Nem sempre é bom tentar esconder a FMS, em especial de quem realmente se importa. E procure também manter o senso de humor. “Descobri que em geral durmo melhor depois de uma boa gargalhada ou depois de assistir a uma boa comédia”, diz André.
Lembre-se também de que Jeová não compara seu nível de atividade com o de outros, mas aprecia a fé e o profundo amor que você demonstra. (Marcos 12:41-44) O importante é aprender a viver dentro dos seus limites, não sendo nem superprotetor nem descuidado. Conte com Jeová Deus para lhe dar a sabedoria e a força para fazer o melhor que puder. (2 Coríntios 4:16) E tenha bem em mente a promessa de uma época vindoura em que a Terra será um paraíso em que “nenhum residente dirá: ‘Estou doente.’” (Isaías 33:24) De fato, um dia você terá saúde de novo!
Nota (s)
Alguns nomes foram mudados.
Despertai! não recomenda nenhum tipo particular de equipamento para ajudar a dormir, nem qualquer tratamento específico para a FMS.

Consolo da Bíblia
• Jeová salva quem está com o espírito esmagado. — Salmo 34:18.
• Jeová o amparará. — Salmo 41:3.
• Lance todos os seus fardos sobre Jeová; ele se importa com você. — Salmo 55:22; 1 Pedro 5:7.
• Jeová se agrada de seus esforços de toda a alma para servi-Lo, não importa quão limitados sejam. — Mateus 13:8; Gálatas 6:4; Colossenses 3:23, 24.
• Nós não desistimos. — 2 Coríntios 4:16-18.

O que dizer
• Que bom vê-lo!
• Deve ter sido necessário bastante esforço para você chegar aqui.
• Estou aqui para ajudá-lo. Eu me preocupo com você.
• Aprecio o que você consegue fazer.
O que não dizer
• Entendo o que você está passando.
• Você parece estar muito bem. Como é que pode dizer que está doente?
• Ligue para mim se precisar de alguma coisa.

(Para o texto formatado, veja a publicação)
Os pontos escuros são alguns dos pontos dolorosos procurados para diagnosticar fibromialgia
É essencial boa comunicação e conversas em família
Fonte: Revista Despertai! de 8 de junho de 1998 pp. 21-24
((•)) Ouça este artigo

Conheça o guanaco — fugidio patagônio

Do correspondente de “Despertai!” no Chile

   O CARRO faz vagarosamente uma curva na estrada de cascalhos, circundando os lagos dos Andes meridionais. Subitamente, uma das crianças aponta algo e grita com emoção: “Guanaco!” Todos olham para onde ela aponta, algo a meio caminho da encosta montanhosa cheia de árvores, e os pescoços que se esticaram e os olhos que se aguçaram são recompensados com uma visão dum pequeno grupo de manchas cor de laranja, todas em linha. No meio da palestra animada que se segue, uma voz se levanta acima das demais.

   “Mas, o que é um guanaco? Não consegui ver nada!”

   Todo o mundo olha para Joãozinho. “Está certo”, diz Suzana. Esquecemo-nos do nosso visitante do norte. Jamais viu um guanaco. Bem, basta perguntar ao vovô, Joãozinho. Ele sabe tudo a respeito deles. Costumava caçá-los.”

   “Sim”, interrompe Pedrinho, “e conte-nos como os índios os caçavam, também, vovô”.
 
    O idoso cavalheiro se ri e diz: “Esperem um pouco. Uma coisa de cada vez. Talvez Joãozinho gostasse de ver de perto um guanaco, primeiramente.”

   “Como pode fazer isso?” — pergunta Suzana. “Jamais poderíamos apanhar um. O senhor mesmo disse que nem mesmo um bom cavalo pode apanhar um.”

   “Sim, Suzana, mas eu não falava sobre um domesticado. Bem, acontece que no próximo rancho, ou estância, como o chamamos aqui, há um guanaco que serve de animal de estimação. O dono da estância é meu amigo, e estou certo de que ficará muito feliz se formos até lá para vê-lo. Gostariam de ir?”

   “Oh, claro que sim. Vamos embora”, responderam em coro os três jovens.

Em Casa na Patagônia

   Ao irem para lá, Joãozinho começa a examinar mais de perto o interior a que pouco conhece. As ovelhas pastam em amplos e dourados prados pontilhados de árvores anãs, curvadas pelo vento. Há pegos de água cheios de bambu, em que nadam patinhos e gansos selvagens. Numa hora anterior do dia, vira graciosos cisnes brancos com pescoços pretos. Aves verdes semelhantes a papagaios voaram de uma área cheia de árvores na estrada, e ele vira até mesmo flamingos rosas durante a viagem. Antes de vir a esta parte mais meridional do Chile, pensara que só veria neve e geleiras e vento. Que surpresa!
    Mas, então, o vovô já fez a curva com o carro para ir à longa picada que leva à casa do dono da estância.
   “Foi aqui que o senhor caçava guanacos?” — pergunta Joãozinho.
   “Não”, responde o vovô. “Foi perto do Rio Santa Cruz na Argentina. Sabe, pode-se achar o guanaco em toda a Patagônia. Falando-se geograficamente, a Patagônia é a parte da América do Sul que vai do Rio Negro na Argentina para o sul, para o Estreito de Magalhães. A parte que jaz a oeste das montanhas dos Andes pertence ao Chile e tem muitos lagos e enseadas rochosas. A parte a leste das montanhas pertence à Argentina e consiste em planos cortados por profundas ravinas, planícies onduladas, terra estéril em certos lugares, tendo apenas vegetação rasteira e espinhos, e, em outros lugares, apenas barro e cascalho. Todavia, o guanaco dá-se bem nesta terra um tanto inóspita. Mas, aqui estamos na casa, e ali, perto da cerca, está o Sr. Guanaco.”

“Um Animal Esquisito”

   Por volta do tempo em que o vovô fechou a porta do carro, as três crianças já haviam atravessado a cerca, familiarizando-se com seu novo amigo. ‘Veja, não tem nenhum medo de nós”, grita Pedrinho.
   “Não tem, não”, responde o vovô, chegando por trás, “ele é muito manso. Os que correm livremente são muito mais ariscos ao verem o homem. No entanto, às vezes permitem que o homem a pé ou a cavalo chegue bem perto, enquanto ficam olhando, curiosos, antes de finalmente saírem em disparada. Disseram-me que no tempo bem frio, o homem pode andar no meio deles quase sem ser notado. Naturalmente, os mais jovens são muito mais acessíveis se forem separados dos adultos. Têm sido até observados a galopar junto com um grupo de homens a cavalo.”
   Enquanto escutavam a conversa do velhinho, Joãozinho tentava fixar na memória exatamente qual era a aparência do guanaco, de modo a poder contar à sua irmã, quando voltasse para casa. Viu que o guanaco não era realmente cor de laranja, de forma alguma. Sua lã era cor de mel, tendo manchas brancas por dentro das pernas, no estômago, e na parte de cima de sua garganta. O pêlo das costas e dos lados era lanoso como o de uma ovelha, mas no pescoço e nas pernas era mais hirsuto. Possuía uma cauda pequena e engraçada, em forma de leque que ficava ereta quando ele corria saltitante. Suas orelhas ficavam em pé, e possuía bonitos olhos castanhos. “Você é certamente diferente de qualquer animal que já vi!” — pensa Joãozinho em voz alta.
   “É verdade”, diz rindo para si o vovô. “Certo senhor o descreveu da seguinte forma: ‘Você é um animal engraçado. Tem a estatura de um cavalo, a lã de uma ovelha, o pescoço dum camelo, e as patas de um veado.’”
   “Acho que é uma descrição muito boazinha”, ri o menino. “Certamente que tem um pescoço comprido.”
   “Tem, sim”, concorda o vovô. “E aquele seu pescoço comprido lhe dá um bem amplo campo de visão.                         Postando-se num pináculo, pode inspecionar toda a terra em volta dele. Por essa razão, além da imensa velocidade em que pode correr, é difícil um homem apanhá-lo. Mesmo que permita que um cavaleiro se aproxime dele, em apenas alguns saltos ele já estará fora do alcance até mesmo do cavalo mais veloz.”
O Sr. Gomez, o dono da estância, juntou-se então ao grupo. “Isso mesmo”, acrescenta, “até mesmo os filhotes de guanacos podem manter o passo dos animais mais velhos. E uma vista incomum é um grupo de guanacos correndo colina abaixo. Toda vez que suas patas dianteiras tocam o chão, mergulham a cabeça quase no chão!”
   Um grito súbito de Suzana faz com que todos se voltem para vê-la de gatinho no chão. “Ele me empurrou”, ela diz atabalhoada, apontando para o guanaco.
   “Ha! Ha!” ri-se o vovô. “É preciso vigiá-lo, Suzana. Esse é um dos seus golpes favoritos.”
   “Sim”, acrescenta o Sr. Gomez, “por mais de uma vez este camarada aqui já me fez quase perder o equilíbrio. Cuidado! Lá vem ele de novo.”
   Pareceria que havia escolhido Pedrinho como alvo, pois dirigiu-se a meio galope para ele, ergueu de novo a cabeça, e golpeou-o plenamente no ombro com o seu peito. Mas, Pedrinho apenas se ri e tenta manter seu equilíbrio. “Será que está tentando brigar conosco?” — pergunta.
   “Oh, não, está apenas brincando, acho eu”, responde o Sr. Gomez. “Embora que, quando os guanacos machos lutam, realmente batem uns contra os outros com seus peitos dessa forma. Mas, também se batem com suas patas dianteiras e mordem o pescoço de seu oponente. Muito embora a pele de seu pescoço seja bastante grossa, a maioria dos machos velhos apresentam cicatrizes profundas de suas lutas passadas. Oh, antes que eu me esqueça, diga-se de passagem que devo avisar-lhes de outro habito do Sr. Guanaco. Igual ao camelo, ele cospe. E posso dizer-lhes por experiência própria que ele tem uma excelente pontaria!”
   “Oh, espero que não se decida a nos fazer seu alvo”, diz Suzana. “Mas, vovô, o senhor prometeu contar-nos como caçava guanacos.”
   “Sim”, concorda Joãozinho. “Se são tão rápidos, como poderia chegar a aproximar-se deles?”
   “Bem, meus filhos, deixem que eu me ajuste confortavelmente sobre esta rocha, aqui, e lhes contarei como o fazia.”

Caçada aos Guanacos — Estilo Tehuelche

   Depois de uma pausa, o vovô continua. “O guanaco, como os outros animais, era às vezes caçado com rifles, mas os caçadores, em sua maioria preferiam o antigo método das ‘bolas’.”
   “Que é isso?” — pergunta Joãozinho.
   “Eu sei”, responde Pedrinho. “É algo que os índios usavam. Está certo, vovô?’’
   “Certo, Pedrinho. Sabe, Joãozinho, há muitos anos atrás havia um numeroso povo chamado ‘tehuelches’ que habitava a Patagônia. Não plantavam nada, mas viviam de caçadas. Por esse motivo, eram nômades, mudando seu acampamento de um lugar para outro ao seguirem as manadas de guanacos. Eram excelentes cavaleiros, mas, como já dissemos, um cavalo não é páreo para um guanaco em velocidade. Usavam cães rápidos para a caçada, também, mas o êxito de sua caçada dependia principalmente do uso perito das bolas. Este instrumento se compunha de três correias de couro, todas unidas numa extremidade, com uma bola coberta de couro — uma pedra lisa e redonda ou um pedaço de metal — ligada a cada uma das três extremidades livres. O caçador segurava uma das bolas em sua mão, girava as duas extremidades livres por cima da cabeça, e lançava o objeto sobre o pescoço do animal em fuga. O guanaco, naturalmente, parava e tentava tirar a correia de seu pescoço, e, assim, suas pernas ficavam enredadas nas outras correias. Daí, o caçador facilmente o pegava.”
   “Mas, ainda não compreendo como chegavam o suficientemente perto para lançar as bolas”, interrompeu-o Joãozinho.
   “Sabe, meu filho, os tehuelches não caçavam sozinhos, mas em grandes grupos. Cavalgavam em dois, espalhando-se em várias direções, destarte formando um grande círculo, acendendo fogueiras para enviar sinais, à medida que iam adiante. Os animais, naturalmente, corriam dos cavaleiros e das fogueiras. À medida que o círculo se fechava, os cavaleiros podiam facilmente lançar as bolas sobre os pescoços deles. Um cavaleiro ficava atrás, para matar o animal, enquanto que outro corria para pegar outro. Às vezes caçavam desta forma ao mesmo tempo que mudavam o acampamento. Daí, a linha mais vagarosa de mulheres e crianças formava a base, e os homens se espalhavam formando um crescente, apanhando tudo no raio de quilômetros.”
   “Devem ter comido muita carne de guanaco!” — exclama Suzana.
   “Não tanta quanto talvez pense. Embora comessem a carne, preferiam a da ema, por ter mais gordura. Mas, usavam o guanaco de muitas formas. Suas tendas, ou toldos, eram feitas de peles de animais adultos; as peles dos mais jovens ou ainda por nascer eram transformadas em mantos. A pele grossa e dura do pescoço era usada para fazer laços, correias, arreios, e assim por diante. Os tendões das costas eram usados como fios de costura. Um instrumento musical era feito do osso da coxa. A lã era usada para enchimento de acolchoados para as camas, e até mesmo usavam uma pequena pedra encontrada no estômago como algo altamente reputado por suas propriedades medicinais.”

Ainda É Popular

   “Mas, entendo que os tehuelches já desapareceram todos”, interrompe-o Joãozinho. “Por que outras pessoas caçavam o guanaco?”
   “É porque as peles ainda têm valor. Usar um manto de guanaco é excelente meio de manter-se aquecido numa fria noite patagônia, quer em terreno aberto quer dentro de casa. Além disso, os mantos são belíssimos e são muitas as orgulhosas donas de casa que apresentam uma colcha de guanaco, macia como a seda, em sua cama. Visto que apenas as peles dos animais recém-nascidos podiam ser usadas para isso, os jovens guanacos de quatro a cinco dias eram caçados. Depois disso, sua pele externa começa a ficar lanosa.”
   “O senhor os caçava em círculos, como os índios?” — pergunta Joãozinho.
   “Não. Usualmente eu ia sozinho, de modo que, naturalmente, tentava chegar tão perto deles quanto possível, sem ser percebido. Exceto em tempos de extremo frio, eles se mantêm em terrenos elevados. Visto que têm por hábito deixar seu excremento em um único lugar e chafurdar-se nas depressões do terreno próximo, quando se avista um destes lugares, sabe-se que uma manada está próxima. Não raro, o primeiro animal que se avista é uma sentinela, sobre uma rolha elevada. Quase certo é que depois dele haja uma pequena manada de seus cônjuges e seus filhotes. Ao ver um intruso, ele blatera e todos ficam alertas. Se ele correr, todos correm, usualmente para terreno mais elevado. Se alguns ficarem para trás, ele os empurrará e cuspirá neles.
   “Então, como é que o senhor os caçava, se eles começavam a correr?” — pergunta Suzana.
   “Normalmente fazem amplo círculo quando perseguidos, por fim voltando ao lugar em que começaram. O caçador tenta cruzar seu caminho, ao invés de persegui-los. Mesmo assim, era preciso que se tivesse um cavalo rápido, incansável. Eu sempre usava sete cavalos — um para cada dia.”
   “São, não apenas rápidos”, acrescenta o Sr. Gomez, “mas são também muito engenhosos em proteger seus filhotes quando são perseguidos. Subitamente agrupam-se, correndo juntos por certo tempo, e então se espalham de novo; mas, ao se espalharem, não haverá nem sequer um filhotinho à vista! Ao correrem de forma cerrada, conseguiram esconder os filhotes na grama, num buraco, ou atrás de algum arbusto conveniente! Muitos caçadores perderam sua caça dessa forma.”
   “Ainda existem muitos guanacos?” — pergunta Pedrinho.
   “Há um século atrás, manadas de mais de cem eram noticiadas. Mas, desde então seus números decresceram grandemente. Tornaram-se vítimas, não só do homem, mas do puma, da doença e do frio severo. O governo chileno proíbe agora a caça ao guanaco, no esforço de impedir que se tornem extintos.
“Bem, meus filhos, acho que temos de ir andando agora, se é que chegaremos em casa antes do anoitecer. Digam adeus ao Sr. Gomez.”
   Relutantemente, as crianças despedem-se do Sr. Gomez e de seu fascinante bichinho de estimação. Ao irem de carro pela picada que leva à estrada, todos os três se viram para trás, para dar uma última olhadela boa ao seu ímpar e novo conhecido — o Sr. Guanaco, da Patagônia.

Fontes:

* Texto: Revista Despertai! de 8 de janeiro de 1970 pp. 17-21

* Imagens: Google
((•)) Ouça este artigo

Amaryllis


   É uma bulbosa de cultivo doméstico e também profissional em quase todo o mundo. Pode ser plantada em vasos ou jardins. São muitas as cores existentes. 
Pelas suas características próprias, pode ser cultivada em qualquer solo, preferencialmente nos mais soltos e semiúmidos, cobrindo-se o bulbo de terra deixando apenas a ponta para fora. Floresce sempre na primavera/ verão espontaneamente. Amaryllis tem um rápido crescimento e floração de até um mês. Após a floração o bulbo entra em período de dormência, perdendo todas as folhas e a planta fica com aparência "sem-vida", após esse período nascem folhas e flores novamente.

Amaryllis é uma das poucas bulbosas que aceitam indução artificial de florescimento, para apresentar flores em qualquer mês do ano. Para tal utiliza-se método de armazenar os bulbos com variação térmica. 
((•)) Ouça este artigo
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...