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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Camelos das Montanhas

   Seu habitat é o alto dos Andes sul-americanos, nos desertos de pedra ou punas. A vicunha é selvática, muito prezada pelo seu pêlo, ao passo que o lhama é domesticado, genuíno navio do deserto. Têm aspecto bastante diferente da criatura que costumamos chamar de “camelo”, no entanto, ambos são verdadeiros camelos.
   O lhama é principalmente animal de carga, mas um animal de carga sem igual, pois pode carregar fardos pesados mesmo no ar pesado das altas montanhas, amiúde abaixo de zero e no meio de fortes ventos e nevascas uivantes. Todavia, não aceita nem um quilo a mais de carga do que deseja carregar. Os lhamas ficam gordos e lustrosos naquelas encostas despidas, onde não se pode ver nenhuma folha de grama e onde há apenas rocha e areia.
   Mas como sobrevivem? Habilmente procuram petiscos deliciosos (isto é, para eles), tais como líquem-das-renas, outros líquens e cactos, que conseguem em pastos incrivelmente escarpados.
   O lhama tem também equipamento especial, e precisa dele, pois alguns dos maiores caçadores do mundo animal vão atrás dele — a suçuarana e o jaguar. Os dedos macios e acolchoados dos pés, quase que como garras, permitem-lhe apegar-se às superfícies muito íngremes, como se tivesse copos de sucção em lugar de pés. Os próprios pés, muito soltos nas articulações, muitas vezes parecem desconjuntados, visto que se ajustam a todo ângulo e fenda.
   Uma vista comum, mas espantosa, é ver o rebanho de lhamas pastando em rocha aparentemente despida, tão íngreme que nem mesmo o índio nativo encontra apoio! Ainda outra vista emocionante é ver um único lhama atravessar saliências despidas ou andar através do gelo vítreo duma geleira, centenas de metros acima duma torrente impetuosa. Parece que um passo em falso, poderia lançar a criatura no abismo.
   A vicunha, por outro lado, não é mantida em rebanhos. É famosa pelos seus movimentos erráticos e rápidos, e pelos seus enormes pulos. A cerca de cinco mil metros acima do nível do mar, podem ser vistas correr com tal velocidade, que apenas se consegue ver a poeira que levantam, e depois parar instantaneamente. Podem dar saltos de até cinco metros, retorcer-se no ar, e, no momento em que seus pés tocam no solo, disparar como loucas em outra direção inteiramente diferente.
Às vezes se pode ver um rebanho de cinqüenta ou mais correr em círculo, dar saltos mortais para frente ou para trás, como que para proclamar a sua liberdade. Ao menor sinal de perigo, se desvanecem numa nuvem de poeira. Costumam se ferir ou morrer em quedas, apesar da ideia popular de que nunca dão um passo em falso.
   É interessante que as vicunhas voltam vez após vez ao mesmo lugar de pouso, mesmo que várias delas sejam mortas cada noite. Se presas, elas não tentam romper nem uma leve barreira de corda, que facilmente poderiam se desvencilhar!
   Seu pêlo valioso fez das vicunhas alvo especial dos caçadores. Um casaco de vicunha é tão fino e leve, que um manto de uns três metros quadrados pode ser dobrado e apertado num pacote de uns vinte e três por trinta e cinco centímetros, e não ter mais de dez centímetros de grossura — um pacote que pesa menos de dois quilos. Os governos do Peru e da Bolívia tiveram por fim de promulgar leis estritas para refrear a matança em massa destas criaturas amantes da liberdade. Uma postagem futura falará de outros habitantes das montanhas.

Texto baseado na Revista Despertai! de 8 de julho de 1970 pp. 18-19

*Imagens: Google
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